quarta-feira, 3 de agosto de 2011

PRECONCEITO CONTRA JUREMA

Prezados senhores:
Atualmente sou assinante da Revista de História, que muito aprecio e cuja assinatura recebi após uma colaboração com RH em que participei no ano passado em evento organizado na cidade de Fortaleza.Tenho recebido regularmente e lido com interesse os ótimos exemplares da revista sempre muito bem ilustrada e chamando atenção com ênfase para as matérias tratadas.
Recebi ontem o n´º 69 de junho de 2011, com grande interesse pela temática sobre Sociedades Secretas que ainda não pude apreciar com calma. Passei os olhos nesta edição e fiquei um tanto assustado e surpreso com dois ou três posicionamentos que passo a relatar.
Em realação à reportagem de capa no Dossiê sobre sociedades secretas, achei muito estranho a forma com que é abordado superficialmente o culto da Jurema. O texto sobre a Jurema na página 24 está até sóbrio, o que está chocante é o título e o enfoque com que a matéria é tratada: Industria do mistério, mistificação, mais mentiras que mistérios (sub-título da capa). No título e sub-titulos da página 25: "O sucesso do meu segredo, Religiões, sociedades ocultiasta, criminosos, ativistas politicos, Verdadeiros ou inventados... supostas verdades escondias". O culto da Jurema do Nordeste comparado na mesma página e colocado como em pé de igualdade com a Ku Kus Klan, CArbonária, Templarios, Órdem dos Assassinos, Opus Dei, Priorado de Sião e outras Máfias
Como antropólogo penso que esta mistura provoca mais confusão e amplia o preconceito do que esclarece. Uma religião popular do Nordeste, semelhante à Umbanda do sul ou ao Candomblé da Bahia ou a outras religiões é mostrada como forma de mistificação. Se for verdade, todas as religiões podem ser consideradas como forma de mistiricação. Como antropólogo, estudioso da cultura e das religiões populares do nordeste, protesto contra o preconceito que esta excelente revista está contribuindo para divulgar.Como manifestação de protesto, estou encaminhando cópia desta mensagem a colegas antropólogos do Nordeste e de outros Estadis que como eu estudam a religiosidade popular no Brasil pedindo que a excelente Revista de História da Biblioteca Nacional evite colaborar na divulgação de preconceitos culturais e religiosos. Creio que esta posição da RH contribui para implantação de uma "guerra santa" que alguns praticantes de certas religiões atualmente querem desenvolver no país.
De forma similar, no mesmo número 69, a matéria assinada pela Dra Lana Lage da Gama Lima, dra em História pela USP e professora da Universidade Estadual Norte Fluminesne, também pode contribuir para a difusão de preconceitos contra o catolicismo. Todos sabemos que a inquisição perseguiu os padres que cometiam o crime da "solicitação". O título e sub-titulo da matéria: Ajoelhou tem que rezar. Nos séculos XVII e XVIII muitos padres aproveitavam o momento da confissão para assediar sexualmente as mulheres", a meu ver pode contibui igualmente para a divulgação de preconceitos. Sei que a Revista de História gosta de títulos que chamem a atenção do leitor, mas alguns parecem chamar atenção para o escândalo como forma de despertar o interesse do leitor. É claro que é importante o esclarecimento do público e o melhor conhecimento de nossa realidade cultural do passado. Mas atualmente com as críticas à pedofilia, à exploração das mulheres, acho que o tratamento deste tema deveir ser feito com mais sobriedade, sobretudo nos títulos.
É a minha opinião. Continuarei lendo a Revista de História e discutindo com meus alunos e orientandos mas creio a antropologia nos ajuda a lidar com mais caltela contra os julgamentos de valor.
Atenciosamente,
Sergio Ferretti - Antropólogo - Professor Emérito da UFMA.

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