quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

DIVULGAÇÃO

DIVULGAÇÃO
As urnas encontradas na região são localizadas principalmente na estrada de terra que corta a localidade, a qual está situada no alto da serra




Audiência publica realizada em Baturité debateu encaminhamentos sobre a atuação do Iphan no local. Comunidade aposta no fortalecimento do turismo na localidade, com geração de novas oportunidades de trabalho e renda

O trabalho, que coletará urnas funerárias de um cemitério indígena, é o pontapé inicial para uma série de pesquisas

Fortaleza. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) irá iniciar, em março próximo, escavações arqueológicas na Serra do Evaristo, em Baturité. O trabalho, motivado pela descoberta de prováveis urnas funerárias na região, representa um momento singular para a Arqueologia no Estado, consistindo no pontapé inicial para uma série de pesquisas na localidade, onde vive uma comunidade quilombola formada por 140 famílias. As escavações serão iniciadas em março.

Embora há décadas peças arqueológicas sejam encontradas - de forma casual - na região, ainda não há dados precisos sobre o material escondido sob a superfície, o qual é composto por urnas que provavelmente compunham um cemitério indígena, fazendo com que a Serra do Evaristo seja um espaço com potencial para abrigar pesquisas em diversos campos da Ciência.

As tradições de uma tribo antiga, que possivelmente habitou a região antes da chegada dos europeus, no século XVI,e os aspectos simbólicos ligados à compreensão da morte por parte dos índios são alguns dos elementos a serem pesquisados a partir dos trabalhos que serão iniciados neste semestre.

De acordo com o professor da rede pública de ensino de Baturité, João Batista de Assis, nos últimos anos, vários indícios da existência de tribos indígenas que habitavam a região têm "aflorado" à superfície da terra, principalmente na estrada de terra que cruza a Serra do Evaristo, devido ao processo erosivo sofrido pelo terreno.

Hoje, destaca, três urnas estão armazenadas na localidade. Uma delas, afirma, foi encontrada por acaso, enquanto moradores cavavam um poço. As outras duas, foram encontradas quando parte delas tornou-se visível na terra. Conforme o professor, em uma delas, foi encontrada uma arcada dentária. Após a surpresa em toda a localidade, as urnas foram então colocadas para exposição, em um espaço público, atraindo ainda mais a atenção dos moradores. Várias outras urnas, afirma, já foram encontradas por moradores, mas não foram preservadas porque não se sabia do valor histórico que elas possuiam.

Sem saber de que exatamente se tratava o material, que surgia com cada vez mais frequência conta o professor, os moradores começaram a procurar pessoas de outras localidades. Segundo Batista, foi feito então contato com o Iphan, para saber se as peças tinham de fato valor histórico. "E, agora, foi constatado que elas são urnas de um cemitério indígena".

Segundo o técnico do setor de Arqueologia do Iphan, Jeferson Hamaguchi, o Instituto passou a ter interesse pelas descobertas logo "nos primeiros contatos" com as urnas funerárias, em 2009. Após constatar a importância das peças, indica, o Iphan passou a elaborar um plano de ação, que previa a escavação arqueológica no local.

Concluído o plano, relata Hamaguchi, foi aberto um processo licitatório para escolher a entidade que executaria o serviço. Ao final, foi selecionada a empresa ArqueoSocio. Todo o trabalho, sublinha, será acompanhado por técnicos do Iphan.

Pesquisas

De acordo com um dos arqueólogos que participarão dos trabalhos, Igor Pedroza, a escavação na Serra do Evaristo terá grande importância do ponto de vista científico, indo além da Arqueologia, representando um material rico para pesquisadores de campos como Geografia, Biologia e História.

Embora o acordo firmado com o Iphan preveja que os trabalhos se deem até o mês de junho, ressalta o arqueólogo, as escavações representam o pontapé inicial para pesquisas que se estenderão ainda por muitos anos.

Segundo Pedroza, embora algumas peças tenham sido encontradas pela comunidade da Serra do Evaristo, ainda não é possível determinar de quando data o material encontrado. Apenas após a análise das peças, informa, será possível precisar a idade das urnas. Segundo informações divulgadas pelo Iphan, é possível que elas tenham até cerca de mil anos de existência.

Ainda que peças arqueológicas sejam encontradas em outras regiões do Estado, salienta o pesquisador, o trabalho representa um momento significativo para pesquisas no Estado. "É uma oportunidade fantástica. Nós vamos ter acesso a um registro arqueológico de um momento, que é a morte".

Etapas

Conforme Pedroza, o serviço será dividido em etapas. "É comum achar que a escavação arqueológica é só a escavação em si, mas não é assim", comenta. Primeiro, informa, serão realizados minicursos, de 20 horas, voltados para as pessoas que participarão do trabalho, incluindo pessoas da própria comunidade. As aulas serão iniciadas no próximo mês. Em seguida, acrescenta, será iniciada, em março, a escavação propriamente dita, através da qual o material arqueológico será retirado do solo.

Por fim, complementa o arqueólogo, será feita a análise do material coletado. Para isso, destaca, será utilizado o método do carbono 14 para fazer a datação do material orgânico - ossadas e arcada dentária, por exemplo. Já para fazer a datação da cerâmica usada na fabricação das urnas, será usada a técnica denominada termoluminescência.

O projeto prevê que dez urnas sejam coletadas e analisadas pelos pesquisadores. Contudo, destaca o arqueólogo, mais peças poderão ser examinadas.

Comunidade poderá ganhar museu

Fortaleza. Se, para os pesquisadores, as peças arqueológicas encontradas na Serra do Evaristo geram expectativa quanto aos estudos que serão realizados na localidade, para as 140 famílias da comunidade quilombola que habitam o espaço, a existência do material significa não apenas enriquecimento cultural, mas também uma possibilidade de desenvolver o potencial turístico da região e incrementar a renda de famílias que enfrentam a falta de oportunidades de trabalho. Nesse contexto, uma das possibilidades estudadas pelo poder público e aguardada pelos moradores é a possível construção de um museu na serra.

Segundo o professor João Batista de Assis, da rede pública de ensino de Baturité, a comunidade da Serra do Evaristo - espaço de difícil acesso - é marcada por uma espécie de êxodo que leva jovens a viajar a outras localidades em busca de trabalho. "A cada segunda-feira tem cerca de 30 jovens saindo para trabalhar na semana em outros locais".

Com o desenvolvimento do turismo na região, indica, esse cenário pode ser revertido. Além da riqueza histórica, frisa, a Serra do Evaristo conta com notáveis atrativos naturais. "A vista é belíssima, porque a comunidade é no alto da serra. O clima também é muito bom", ilustra. A expectativa do professor é que, pouco a pouco, a comunidade possa erguer estabelecimentos associados às pesquisas na região, a exemplos de lojas de produtos artesanais e restaurantes.

De acordo com o secretário de Cultura do Estado, Francisco Pinheiro, as pesquisas arqueológicas na região podem culminar com a construção de um museu. Embora ainda não haja projetos concretos sobre o assunto, a ideia poderá ser contemplada através de uma articulação com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). "A expectativa é de que as pesquisas contribuam com a comunidade", destaca Jeferson Hamaguchi, técnico do setor de arqueologia do Instituto.

A expectativa de enriquecimento cultural por parte da comunidade também é apontada por João Batista como um ganho significativo para os moradores. Ele destaca que as pesquisas serão acompanhadas por aulas e orientações aos moradores, que não ficarão alheios ao trabalho executado pelos pesquisadores.

No último sábado, as escavações arqueológicas na região foram tema de uma audiência pública da qual participaram representantes da Secretaria de Cultura do Estado, do Iphan, da empresa ArqueoSocio, que executará a escavação, e da comunidade própria quilombola.

O trabalho será realizado por profissionais do Estado e por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco e da Universidade de São Paulo. Segundo Igor Pedroza, um dos arqueólogos que trabalharão no projeto, pelo menos três arqueólogos atuarão nos serviços. Estudantes e profissionais de História e Geografia, da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECE), também farão parte da equipe. Pelo menos cinco pessoas da comunidade, frisa, também participarão do trabalho.

A área onde as escavações arqueológicas serão feitas neste semestre é tida como um antigo cemitério indígena, embora ainda não se possa precisar de quando data o material encontrado, o qual consiste principalmente em urnas funerárias em forma de pera, algumas das quais ainda contêm material orgânico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário