terça-feira, 31 de maio de 2011

TODO DIA É DIA DE ÍNDIO EM PIRIPIRI?

O piripiriense Kleb Leite, acadêmico de Ciências Socias e pesquisador do
PIBIC/CNPQ pela Universidade Federal do Piauí - UFPI está desenvolvendo
estudo sobre os indígenas de Piripiri. A orientadora da pesquisa é
também a piripiriense Francisca Verônica Cavalcante, professora
permanente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia e Arqueologia e
Coordenadora do Curso de Ciências Sociais da UFPI.

TODO DIA É DIA DE ÍNDIO EM PIRIPIRI?

Em 2006, o IBGE registrou no Piauí, cerca de 2000 remanescentes
indígenas, um número significante deles, habitam a região de Piripiri.
Desde 2003, o governo do estado do Piauí através da Fundação Cultural do
Piauí (FUNDAC) tem fomentado discussões sobre os índios piauienses com o
objetivo de reconstruir a história dessas populações. Em uma das mídias
eletrônicas da cidade de Piripiri, em maio de 2010, encontramos a
seguinte notícia: "A Fundação Nacional do Índio publicou o resultado do
recente reconhecimento da existência de povos indígenas no estado do
Piauí, são eles: índios Itacoatiara, em Piripiri, índios Codó Cabeludo,
na região de Pedro II, e o os Cariris, em Queimada Nova. A Coordenação
Regional da FUNAI de Fortaleza determinou através da portaria 344 a
devida prestação assistencial a comunidades indígenas do Piauí".

Segundo o antropólogo Helder Ferreira, foi registrada a presença de
grupos indígenas na cidade de Piripiri, descendentes dos índios
tabajaras da região da Serra da Ibiapaba, na fronteira entre o Piauí e o
Ceará. A hipótese é que eles migraram para o Piauí. Trata-se da
comunidade tabajara radicada no município. Em 2005, foi fundada a
Associação Itacoatiara e a principal questão destes grupos, enfatiza o
professor, é a terra. São em torno de 140 pessoas, mas hoje já há algo
em torno 280 pessoas, alguns sobrevivem do artesanato em madeira e
fibra. Outros desenvolvem atividades como radialista, pintor, pedreiro.
Participaram de eventos em prol do índio promovidos pela FUNDAC em
comemoração ao dia do índio, em 2009 e 2010; foram os vencedores do
Prêmio de Culturas Indígenas com o qual compraram um terreno e
construíram a sede da Associação Itacoatiara, localizado na cidade de
Piripiri. No que se refere à religiosidade do grupo, se auto declara
católica, não usa pinturas, nem indumentárias indígenas. No que diz
respeito à sexualidade muito pouco deixam transparecer das suas
relações, casam-se na igreja católica.
Piripiri, nome indígena dado a uma planta que era abundante no bairro
Fonte dos Matos, completou seu primeiro centenário na data de 4 de julho
de 2010. A presença de nomes indígenas em instituições e famílias chama
atenção: o Estádio de Futebol Itacoatiara, o sobrenome Tupinambá, nomes
como Guanubi, Guaciara, Potiguara, dentre outros são conhecido e
intergeracionais. Existe preconceito étnico na cidade que adotou como
sua, a música de um cantor baiano chamado Paulo Diniz que diz: "Eu vim
de Piripiri, eu vim de Piripiri... lá não há distinção de cor, lá cada
amigo é um irmão...".

Questões tais como o grupo indígena tabajara é reconhecido pelos
habitantes da cidade como tal? Migraram do Ceará? Etnia, língua, o que
cultivam como tradição, alimentação, religiosidade? Como a população
piripiriense pensa este grupo, como este grupo pensa a respeito da sua
condição de índio e sobre os outros habitantes da cidade?

Nosso interesse é conhecer mais sobre a cultura piripiriense,
particularmente sobre este grupo indígena, sua religiosidade e sua
sexualidade. Esse grupo parece ser diferente do indígena presente no
nosso imaginário, sobretudo porque se trata de indígenas que vivem não
em aldeias, mas na cidade, mas, nos indagamos se o grupo guarda alguma
tradição, ressignifica, lembra, conhece, mistura a cultura dos seus
antepassados a cultura urbana em que se encontra inserido. Então, quais
são os seus ritos de passagem (ritos de gestação e de nascimento, ritos
de iniciação, ritos de casamento, ritos funerários)? Cultuam somente os
santos católicos? Existe um feiticeiro entre eles? Sobre a sexualidade
também não podemos afirmar categoricamente como o grupo relaciona amor e
casamento, como é a questão da proibição do incesto, endogamia,
isogamia?

Na data de 15 de janeiro deste ano realizamos o recolhimento de duas
entrevistas com os principais integrantes da tribo Tabajara são eles: o
Pagé (senhor Elvídio) e o cacique da tribo (senhor José Guilherme da
Silva). O objetivo foi dá início a pesquisa de campo e o principal tema
abordado foi a presença ou não de tradições religiosas indígenas nas
práticas religiosas atuais da então tribo tabajara.

Segundo os relatos dos entrevistados podemos identificar um possível
distanciamento de suas tradições culturais religiosas, eles atribuem tal
distanciamento à vivência por muito tempo na cidade, eles afirmam não
praticarem os rituais religiosos dos tabajaras, são católicos e são
devotos de Nossa Senhora dos Remédios, a padroeira da cidade. Afirmam
que a vinda para a cidade se deu em função da busca de sobrevivência,
dadas as precárias condições de vida ocasionadas pela seca ocorrida na
década de 1940, que atingiu particularmente o estado do Ceará,
obrigando-os a desbravar matagais, percorrer um enorme espaço de terra
até chegar ao estado do Piauí e se instalarem na cidade de Piripiri e
assim se sujeitando, para sua sobrevivência, a trabalhos diversos e
diferentes daqueles a que estavam acostumados a desempenhar, para eles,
o principal motivo do enfraquecimento cultural de sua etnia. Registradas
apenas em suas lembranças as tradições indígenas do passado.

Hoje a associação Itacoatiara é assistida por órgãos governamentais
como: (FUNAI) e (FUNDAC) que contribuem com a educação escolar, através
de programas culturais que objetivam resgatar as suas raízes étnicas e
também realizam a distribuição de sextas básica, uma vez que a maioria
vive em condições econômicas precárias.

A entrevista proporcionou o entrosamento com o grupo indígena
piripiriense, viabilizando a possibilidade de construção de uma rede de
sociabilidade com o grupo que nos permitirá, com o andamento da pesquisa
conhecer as suas maneiras de ser no que diz respeito a sua
espiritualidade, as suas visões de mundo, as maneiras como se percebem
enquanto grupos, como suprem suas necessidades materiais, o que eles
pensam que os outros habitantes da cidade pensam sobre eles e, como
lidam com a questão da sexualidade. Enfim, o trabalho feito com o grupo
possibilitou-nos adentrar neste universo do "Outro", entendermos um
pouco sobre como eles vivem, e podemos afirmar: são indígenas urbanos,
economicamente, sobrevivem com dificuldades, como tantos outros
piripirienses e parecem ter crenças e sexualidade semelhantes a tantos
outros grupos sociais que vivem em cidades interioranas piauienses. Mas,
ainda estamos em fase exploratória, iniciando a nossa pesquisa.

Kleb Leite, piripiriense, graduando do curso de Ciências Sociais e
pesquisador do PIBIC/CNPQ pela Universidade Federal do Piauí-UFPI.
Francisca Verônica Cavalcante, piripiriense, professora permanente do
Programa de Pós-Graduação em Antropologia e Arqueologia e Coordenadora
do Curso de Ciências Sociais da UFPI.

10-03-2011 09:23:42 | 187.41.216.94 | Camila Fábia

Bom demais ter pessoas interessadas em elaborar relatórios sobre os
indígenas de Piripiri. Sei que na região do bairro germano e vista
alegre tem muitos deles espalhados sem identidade, onde também perderam
seus costumes e se quer sabem da sua história. parabéns pelo empenho.

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